sábado, 31 de março de 2012

Cyberbulling e a Responsabilidade da Instituição de Ensino
"Se precisamos de leis para nos ensinar o Bom Senso, então, trazemos de berço a insensatez"
Autora: Joseane de Souza Heineck]
















Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº 196/2011, que altera o art. 12 da Lei de Diretrizes e Bases e impõe às escolas o dever de combater o assédio escolar, mais conhecido como bullying, através de ações educativas e de prevenção. A iniciativa pretende tornar indiscutível que a Instituição de Ensino é responsável por desenvolver práticas que conscientizem os alunos de que as agressões intencionais, verbais ou físicas, contra um ou mais colegas repetidamente, caracteriza o bullying e pode trazer prejuízos, algumas vezes irreversíveis.

A importância do Projeto é incontestável, no entanto, PL 196 corre o risco de ficar ultrapassado antes mesmo de ser votado e colocado em prática. Nos termos em que está redigido, o texto não menciona a responsabilidade das escolas diante das ocorrências de cyberbullying, o qual se caracteriza por agressões verbais veiculadas em qualquer meio eletrônico de comunicação - como e-mail, sites, blogs, redes sociais e celulares. Apesar de ser praticado de forma virtual e, na maioria das vezes, fora do ambiente escolar, a Instituição de Ensino tem o dever de abordar o assunto e adotar posturas que previnam o cyberbullying. 

Restrição de acesso a sites de relacionamentos e chats nos laboratórios de informática, orientação aos estudantes para nunca ceder ou emprestar senhas e logins, e conscientização de que o anonimato na internet não é absoluto são algumas das medidas que as escolas podem adotar. Além disso, é importante ressaltar aos alunos que as agressões efetuadas em ambientes virtuais serão reprimidas com sanção proporcional e que existem, inclusive, delegacias especializadas em crimes online. 

Não são poucos os relatos no Brasil e no exterior, de alunos que entram em depressão após sofrerem, por meio de mensagens eletrônicas, discriminação e diversas ofensas. Nesse sentido, a escola tem papel determinante no sentido de auxiliar e promover atividades que envolvam os espectadores do bullying. 

Através de oficinas de teatro, por exemplo, as instituições podem fazer com que as crianças e jovens abandonem a posição passiva em que se encontram e passem a ser agentes que combatam a prática. Assim, podem também levar as discussões para suas famílias, colegas e grupos de amigos, atingindo, ao final, a sociedade como um todo. 

quinta-feira, 29 de março de 2012

Slide: Programa Mais Educação - PROJETO

Slide: O Papel do Professor Comunitário/Coordenador

Slide: O que é o PROGRAMA MAIS EDUCAÇÃO?

Tire suas dúvidas... conceitos, metodologias, macrocampos, microcampos e muito mais sobre o Programa Mais Educação.

Clique na imagem abaixo e veja o Slide:


sábado, 24 de março de 2012


Hoje a Escola Estadual Manoel Justiniano de Melo abriu o baú das minhas lembranças... Leitura, muito prazer!
Socorro Bezerra
Eu sou o que sou pelo que aprendi e construí a partir das lições aprendidas em cada canto, em dado momento. Tenho oito irmãos, sendo cinco mulheres e três homens. Filha de Pedro e Francisca. Como aprendi a ler...
A sala de aula era dividida por tabiques, carteiras de madeira de lei com dois lugares. Já pensou? Integração ou interação? Éramos felizes. Lembro-me do prazer na leitura demonstrado pela professora do 1º ano (Forte) Dona Mariazinha. Como era maravilhoso ouvir as histórias lidas por ela. A moura torta, O gato de botas. A bela adormecida e tantas outras iniciadas na segunda e concluídas na sexta. Como esperávamos o clímax e o desfecho da história. Se fechar os olhos agora sinto a magia daquela voz com fluência e entonação precisa como uma atriz a representar a cena. Todos nós não faltávamos para que não perdêssemos nenhum momento da história. Aprendi a ler neste livro “As mais belas histórias”. Foi nesta escola com esta professora que esqueci de vez as cópias feitas na aula particular. Escrevíamos a página do caderno inteira – “O bom filho Deus protege”. Talvez seja por isso que minha letra é horrível.
Naquela época os conteúdos/assuntos eram tratados como fim para obter boas notas. Todavia, os valores adquiridos estão presentes no fazer docente de agora. O que é interessante, é o que fica, o que é para o uso cotidiano. Aprendemos o que nos interessa. Retomo aqui as deixas daquela escola. Fazíamos leituras prazerosas, competições matemáticas, estudávamos história, geografia e ciências decorando questionários enormes. Mas, nunca nos sentimos frustrados nem traumatizados. Como era bom brincar de amarelinha, tô no poço, casinha, jogo de pedra. Tudo isso faz parte do tecido que teci juntos a tantos meninos e meninas que se acharam ou se perderam no tempo.
Hoje leio o que me interessa e dar prazer, tanto da atualidade como outros recortes do passado. As marcas que ficaram emergem nas histórias lidas ou contadas, nos versos que escrevo ou nas palavras que junto ou jogo fora.
Hoje por exemplo estou muito emocionada... Terezinha supervisora da E. E. Manoel Justiniano de Melo ligou-me lá pelas 8h. Socorro! Escute aqui... Estamos fazendo aquele “Desfile Literário” sugestão sua do Mediador da Leitura – Tá uma festa só, vamos percorrer as ruas do bairro. - Ô Terezinha por que não nos avisou para que participássemos? – Foi tanta empolgação que não deu tempo.
Lá vem a questão do TEMPO. De aprender, de fazer amigos e de lembrar-se das coisas boas que adoçam a nossa vida.
Parabéns a equipe da ESCOLA por que junto com a comunidade forma o cidadão do futuro, proporcionando momentos de prazer, de boas leituras e, sobretudo por ENTENDER que os monitores do Programa Mais Educação são parte integrante da escola.
 Professora Jacélia como sempre feliz com seus alunos


 Bem lembrado.. a ÁGUA

 Rosane gestora da escola

O Problema do Medo
"Não existe medo sem causa, assim, a causa do medo já é o próprio medo."
Autora: Anne Marie Lucille[1]


Que temos inúmeros receios todos sabemos afinal isso é algo comum, todos têm seus próprios temores. São temores pessoais, coletivos, inconscientes, e há um sem fim número de qualificações e explicações para todos os nossos medos. Mas saber as causas dos nossos receios, novos e velhos, não resolve o problema do medo, não elimina, nem erradica a condição medo do nosso ser. Fácil é enumerar nossos receios e temores, os receios dos nossos amigos, os receios de toda humanidade, mas o simples fato de enumerá-los não significa que os estamos transcendendo. Receamos quase tudo que se oponha ao nosso bem estar, isto é muito simples de se compreender, mas o simples dar-se conta disso, não resolve o problema.
Descrição: http://sitededicas.ne10.uol.com.br/gifs/trans.gif
A coisa a princípio é muito simples. Nosso inteiro ser caminha apenas numa direção, e esta é a busca de satisfação pessoal. Assim, qualquer coisa que se oponha a esse princípio, qualquer evento que possa parecer um obstáculo à obtenção dessa satisfação, será para nós uma causa, o veículo através do qual o medo se manifestará. Se me agrada e me dá satisfação, isto me atrai; se não, tratarei de evitar. Não há como ser diferente faz parte da programação básica de todo animal, racional ou não. Somos movidos pelo desejo de obter prazer; prazer com facilidade em tudo que façamos, e qualquer insinuação de ameaça entre nós e a obtenção dessa satisfação, o que significa indício de insatisfação, isso logo se transforma numa incerteza acompanhada de receio, uma coisa através da qual o medo em nós se revela.

Mas a coisa através da qual o medo se manifesta em nós, não pode ser propriamente o estado medo, e sim apenas uma causa que o desperta. Supondo alguém que tenha medo de baratas, pois sabemos baratas fazem parte dos temores conscientes e inconscientes de muita gente; mas também sabemos que em determinadas culturas, pessoas idolatram a barata como objetos de fetiches, outros a tem como uma fina iguaria em sua culinária. E assim podemos perguntar; por que a barata não assusta a todos?

A resposta é simples, porque a barata não é o medo, e sim um objeto qualquer, uma coisa através da qual o medo de manifesta em algumas pessoas ou culturas, mas não em todas. Não sendo em todas, não é o medo. O objeto causador do medo, não é o medo, mas a causa, o veículo através do qual o medo se apossará de nós. Através desse objeto, ele irá emergir das profundezas ocultas do nosso ser, como um peixe faminto que busca as migalhas de pão que boiam à superfície da água.

Podemos sentir prazer ao presenciarmos uma bela e exuberante paisagem, e aversão ao presenciar uma cena de miséria. Vivemos numa eterna condição onde somos obrigados a escolher. Escolhemos tudo. Que caminhos deveram tomar para ir ao trabalho; qual a melhor hora, qual o melhor carro, qual a melhor roupa, qual o melhor partido para nosso matrimônio, qual o melhor nome para nossos filhos. De verdade, nunca paramos de escolher. Têm-se diante de nós a possibilidade de escolha, nos parece óbvio que nunca somos livres, pois sempre precisaremos escolher o que sugere um eterno conflito. Onde há escolha há sempre conflito, e onde há conflito não existe liberdade.

O ato de escolher já é o próprio conflito. Escolho porque tenho as opções, escolho porque não sou livre para fazer o que quiser; escolho porque desejo para mim o melhor dentre os disponíveis. Desejo enfim, garantia de satisfação. Mas se buscamos garantia em alguma coisa, é porque há a possibilidade de que aquilo não se concretize, ou não perdure o tempo que julgamos necessário à nossa plenitude; o que gera a insegurança, o medo; medo de perder o que já temos medo de não conseguir o que ainda não temos medo de não ser aquilo que ainda não somos.

O nosso instinto básico de preservação nos diz que devemos evitar tudo aquilo, que seja capaz de agredir nosso corpo. Essa condição, comum a todos os seres, não foi criada pelo pensamento, não depende de conceituação ou tratado ideológico de nenhuma espécie, é natural, é espontâneo. Isto significa que nossos sentidos estão preparados de berço para agirem dessa forma. Assim, ao sofrer alguma agressão do meio onde vivemos, seja por má alimentação, seja por acidente, a natureza nos dotou de um mecanismo que permitiria memorizar aquele evento, apenas para que não precisássemos repetir a mesma experiência muitas vezes. A lógica é simples, se por desconhecer um alimento, nós o comemos e este nos envenena, a ponto de mal conseguirmos sobreviver à experiência, não houvesse o mecanismo de memorização, certamente que na próxima ocasião, já debilitado pela ocorrência anterior, nosso corpo não suportaria a repetição.

Memorizada a experiência está resolvido o problema. Temos então a seguinte condição; cinco sentidos físicos a avaliar nosso mundo e escolher aquilo que é mais adequado à nossa sobrevivência, e outro sentido encarregado apenas de documentar tudo àquilo que estes percebem, ou experimentam. Têm-se os olhos para expressar visão, os ouvidos para audição, a língua para o paladar, o nariz para o olfato, e todo corpo para as sensações tácteis, temos o cérebro para memorizar tudo que percebem estes sentidos; seria ele o recipiente, o órgão hospedeiro de um sentido aferidor dos outros sentidos.

Assim, pela lembrança sabemos que eventos podem nos prejudicar e quais podem nos agraciar. Um evento, qualquer que seja, nunca poderá estar dissociado do seu objeto, a causa que o motivou. Desse modo, há sempre um objeto que nos conecta diretamente com qualquer problema, de qualquer natureza, cujo resultado seja insatisfação ou prazer.
Se temos receio de alguma coisa, descobrir que temos este receio, não resolve nada. Temos medo de muita coisa, medo de não ser bem sucedido, medo de não agradar ao esposo ou a esposa, medo de não vir a ser qualquer coisa. Saber disso não ajuda em nada a superação destes medos. A solução mais simples para se atravessar um rio caudaloso, certamente que não é construir uma ponte, principalmente se estamos com pressa e não temos os recursos para isto. Podemos fazê-lo nadando, mas podemos ficar horas ou dias imaginando o que pode nos acontecer se tentarmos atravessar a nado. Mas, e se o rio apesar de caudaloso e da aparência feroz, for raso e as corredeiras fracas? Poderíamos então atravessar simplesmente caminhando. Mas para descobrir se ele é raso, precisamos nos aproximar e examinar suas águas, e assim conhecê-lo melhor; coisa que a especulação causada simplesmente por temer suas águas turvas, não nos deixaria fazer.

Mas o que é o medo afinal de contas, um estado emocional, um mecanismo de origem natural do qual foram dotados todos os seres vivos, ou algo exclusivamente humano? Ter medo é uma condição essencialmente racional e emocional, pois só podemos temer aquilo que conscientemente seja capaz de nos fazer algum tipo de mal, algo conhecido. Sabemos o que sentimos quando a sensação de medo toma conta de nós, e é quase certo que também sabemos o porque, pois não podemos imaginar um receio sem motivo. Uma coisa é certa, como não existe medo sem causa, a causa de qualquer medo é o próprio medo.

Podemos perceber isso no exato momento em que estamos sentindo algum tipo de medo. A causa nesse momento pouco importa, mas o que estamos sentindo importa e muito. Fazendo isso, vamos ver o medo em atividade, o que ele causa em nós, o que estamos sentindo diante de sua manifestação. Se de um lado temos a causa que faz o medo explodir de dentro de nós, observar o que estamos sentindo naquele momento parece ser mais sensato do que evitar a causa; aquilo que origina esse medo. Evitando a causa, afastamos o temor, o que nos impede de ver o que é o medo. Questionar por que sentimos medo de alguma coisa, só tem algum valor prático se primeiro examinamos que tipo de sensação é aquela que estamos sentindo.

Observar o que sentimos no exato momento do medo, é o mesmo que investigar a validade de sua causa, e não a origem, pois isso não ajuda em nada a superarmos nossos receios. Podemos deduzir que uma causa de medo é um trauma infantil qualquer, mas isso não resolve o problema. Apenas deixando o medo se manifestar a cada momento, sem rejeitá-lo ou afastar sua causa, pode nos ajudar a transcendê-lo de uma vez por todas.

Se estou me afogando e vejo um tronco no qual posso me segurar, pouco importa para mim saber de que tipo de árvore ele é. Assim, diante de um medo, é importante observarmos seu mecanismo de ação em nós, como está reagindo nosso corpo, quais são nossos pensamentos naquele momento, se estamos ou não confusos; o que de verdade nos assusta, sem justificativas, sem ressalvas, sem as costumeiras explicações que fundamentam e dão razão a existência desse medo.

Examinando o medo em atividade, temos uma real chance de compreendê-lo. Mas nós sempre o rejeitamos, sempre o justificamos, sempre valorizamos mais a causa que seu efeito, e por isso nunca somos capazes de ficar livres dele. Uma causa de medo, que é o próprio medo, quase sempre oculta muitas outras causas, de muitos outros medos, um verdadeiro labirinto onde estão escondidas coisas que queremos ocultar de nós mesmos, ou de todos.

Descobrir do que temos medo só tem valor se estivermos dispostos a descobrir porque o temos. E descobrir porque o temos, só tem valor se estivermos dispostos a compreender esse medo, como ele é capaz de nos afetar emocionalmente, sentir seus efeitos para sabermos o que ele é. Só após isso, podemos saber por que o tememos; isso é o mesmo que conhecer sua estrutura. Em contato direto com ele, não com as explicações que o caracterizam, não com os motivos conscientes ou inconscientes, mas frente a frente, conhecendo como age em nós, podemos finalmente questionar, se tem fundamento sua existência.

A causa de uma raiva, o motivo que desperta em mim o estado de raiva, existe apenas porque há o veículo, que sou eu, onde ela pode se manifestar. Entretanto, ela só se manifesta se a causa existir. Desse modo, se, sem a causa o estado raiva não se manifesta em mim, posso concluir facilmente que a causa é a própria raiva, e como a causa é pessoal e afeta a mim, sem mim não existiria o motivo, que é a raiva; então eu sou a própria raiva.

Assim, como na natureza não existe o estado medo, ou alegria, ou ódio, ou qualquer outro, posso concluir que eu sou o responsável pela existência de todos estes estados. Se todos estados emocionais do homem demandam um motivo para existir, estes motivos foram criados pelo próprio homem. Realização pessoal ou coletiva são condições que não existem na natureza. A natureza não tem sentimentos, não sofre, não criou os motivos que angustiam e levam o homem ao medo e ao sofrimento.

Se existe em nós a busca constante de algo que nos garanta para sempre satisfação, haverá em oposição a possibilidade de não lograrmos êxito nos empreendimentos que elegemos como necessários, como pré-requisitos à nossa felicidade. A dúvida faz parte de nossas vidas, já que o desejo de obter alguma coisa, o desejo de poder mais, de saber mais, e tantos outros, que é a motivação de todo homem, sempre terá pela frente o processo de escolha. E se escolhemos é porque nunca temos certeza de que estamos fazendo a coisa certa, o resultado; conflito, ilusão, angústia, medo.

Saber que temos medo, todos sabem; saber do que temos medo, isso também sabemos pois o motivo é o próprio medo. Questionar porque temos medo de tais coisas, pode ser o inicio da liberdade, mas a cura pode estar em descobrir o que é o medo. Normalmente não queremos nos aprofundar nos motivos que despertam em nós medo, eles podem revelar particularidades nossas que queremos ocultar. Assim, compreender o que é o medo, pode revelar porque as causas são particularmente para nós um problema.

Se me sinto inseguro por ser incapaz de assumir responsabilidades, preciso me perguntar qual é o verdadeiro motivo dessa insegurança. Mas o que normalmente ocorre é que a palavra insegurança, já tem seu próprio significado, e o conceito por trás da palavra me impede de prosseguir em minha busca por respostas. Ser inseguro é ser medroso, é ser covarde, é não ser capaz de assumir riscos, etc. Mas esta descrição está muito longe de significar o estado de insegurança em si, e assim, ao me deixar envolver pela descrição, não me permito compreender e investigar, sentir em mim o seu real significado.

A coisa é simples, se sou inseguro, há um motivo, sem motivo não haveria insegurança, e isso deveria me bastar para compreender a coisa. Mas o que fazemos é buscarmos imediatamente uma maneira de nos livrarmos dessa insegurança, uma fórmula mágica que elimine de nós tal estado emocional. Mas sem compreender o que significa o "estado insegurança", o sentimento de insegurança; o real significado enquanto se manifesta em mim, o que sinto quando ele se manifesta, ele não passará de um conceito, será apenas uma palavra a designar algo que desconheço.

Como me livrar de algo que desconheço? Certamente que não há como. Preciso então ignorar o que há por trás do conceito insegurança, pois isso não importa, e sim o que sinto. Ciente do que sinto quando estou inseguro, poderei compreender o que é insegurança, saberei por que me afeta; saberei qual a sua causa, saberei o que fazer para enfrentar e transcender o problema. 

sábado, 17 de março de 2012

O Que Deveriam Ensinar as Escolas - Parte 1
"O importante numa discussão entre pessoas empenhadas num mesmo propósito, é reconhecer o que é sensato, razoável, e não quem está com a razão..."
Autora: Ester Cartago[1]



As formas dão forma ao nosso mundo
Um computador é capaz de armazenar em sua memória, todo conhecimento da humanidade, e desse modo, pode transmitir às futuras gerações, tudo que está lá guardado, e tudo isso, sem a interferência do ser humano.

A partir do momento que os educadores se tornam meros retransmissores do conhecimento, seu maior rival sem dúvida será uma dessas máquinas e não os outros professores.
A máquina tem algumas vantagens sobre o professor. Esta pode trabalhar muitas horas por dia, todos os dias da semana e feriados, sem reclamar de cansaço; sem folgas, sem reivindicar nada para si. Em segundos será capaz de absorver as últimas novidades e descobertas cientificas, sem a necessidade de participar de caros congressos de atualização, sem a necessidade de reciclar-se profissionalmente para exercer novos cargos, sem a necessidade de aposentar-se por tempo de serviço. Não precisa de tempo algum para se preparar para mais um dia de trabalho, basta que apertem um botão e ela já está pronta, como se fosse seu primeiro dia naquela ocupação. Para a escola será muito mais vantajoso. E então o que será feito do educador formado na simples arte de transmitir conhecimentos, que é o modelo tradicional que conhecemos hoje?
Podemos observar como nos sentimos importantes quando nos identificamos com alguma coisa grande. Pode ser uma instituição poderosa, ou alguém influente, ou uma idéia defendida por muitos, ou um produto da moda. Ao nos identificarmos com alguma idéia, ideologia, estilo de vida, ou o que seja, estamos na verdade fugindo da nossa realidade em busca de um mundo de sonhos; estamos renunciando a aquilo que somos e criando um personagem fictício que gostaríamos de ser; uma situação irreal que passamos a perseguir para fugir da feiúra que julgamos ser nossa existência. O certo é que nunca encontraremos um modelo ideal, uma vez que perseguiremos sempre os objetivos que os outros nos apontam; que até podem servir para eles, mas que logo se revelam ou inatingíveis ou não adequados para nós. 

Ser educado para nós é a adquirir conhecimentos ou receber instruções, e mais algumas regras de como devemos nos comportar no trato diário como as pessoas. Isso para nós é o suficiente; uma vez que nos torna aptos à exercer um cargo no mercado de trabalho, e ter suficiência nos comunicarmos. Estamos mecanicamente, passivamente, seguindo hábitos perpetuados pela tradição, que nos dizem como devemos nos relacionar com as pessoas, o que inclui nosso ambiente de trabalho e cotidiano; sempre respeitando às diversas hierarquias, os nossos interesses, e da corporação que ora representamos. Estabelece-se assim um convívio irreal e hipócrita entre pessoas e facções, onde a tolerância é apenas um jogo cenográfico, onde todos representam personagens que existem apenas para aquelas ocasiões, e onde a relação só é possível porque existem os interesses materiais de cada uma das partes. 

Num cenário assim, não precisamos nos envolver com ninguém, apenas fingirmos algum interesse por um período de tempo relativamente curto, conforme seja o padrão estabelecido pelo meio social ou corporativo, com suas normas e convenções. E isso, pela própria natureza da coisa, se torna uma prática artificial, como o é toda representação teatral de um personagem. As regras se prestam a guiar nossos passos, orientando como devemos agir e nos comportar nas mais diversas situações do nosso dia a dia. Assim, é necessário apenas que sejamos capazes de imitar e fingir um pouco, e já saberemos como nos relacionar com as pessoas. 

A hipocrisia e a mentira são então coisas permitidas, pois ninguém está interessado em relações duradouras, apenas o tempo suficiente para conseguir seus objetivos. Por isso mesmo valorizamos tanto a aparência das coisas, uma vez que isso é essencial quando queremos causar boa impressão, mesmo que a realidade nunca seja aquela demonstrada. Criamos a aparência ideal porque todos fazem a mesma coisa, e assim nos relacionamos com imagens ideais, fantasias criadas com o único propósito de esconder do mundo aquilo que somos de verdade. 

A cortesia nas relações se torna então uma qualificada representação teatral, uma formalidade calculada, sem emotividade alguma, uma forma mecânica de comportamento, que pode ser devidamente ajustada para se adequar a qualquer situação. Embora artificial, tal comportamento é aceito por todos, e caso não existisse, poderia até causar mais confusão e desordem em nosso mundo. Assim, o fingimento é necessário para colocar ordem em nossas relações, e para a correta organização das nossas instituições. Desse modo podemos afirmar que a mentira se torna uma habilidade necessária ao correto funcionamento da sociedade como hoje a conhecemos. Mentimos porque queremos agradar, e queremos agradar porque temos interesses pessoais envolvidos, e todos fazem a mesma coisa; logo, nossas verdades se tornam grandes mentiras, um mundo absolutamente falso, onde nada é o que aparenta ser. 

Eis o modelo de mundo que nossos filhos herdarão, pessoas que agem e se relacionam de forma passiva, como a seguir uma coreografia programada. Autômatos repetindo frases e comportamentos rotulados para cada situação do dia a dia. Um ser artificial, vivendo superficialmente, sem sentimento algum, onde o desejo de ser importante é sua obsessão, como uma máquina seguindo um gabarito operacional, que um operador escolhe, conforme a necessidade da demanda, na linha de produção. 

Ao agir como uma máquina que apenas imita comportamentos, rapidamente o homem perde seus valores humanos e simplesmente se deixa levar pelas influências do mundo à sua volta. Suas idéias e objetivos, os outros determinam, assim como os meios necessários para que ele seja capaz de alcançar cada uma dessas coisas. Os meios de consumos e os senhores que cuidam do seu modo de pensar e agir, dirão a que horas deverão dormir e acordar, o que deverão comer e vestir em cada ocasião, quais suas obrigações, pois tudo passa a ser obrigação, com trabalho, família e amigos. 

Dirão até como eles devem se relacionar com os filhos e esposa ou marido. Um objeto controlável de acordo com as conveniências das facções e movimentos, encarregados de controlar sua vontade e querer. Cria-se assim o ser humano objeto, completamente controlável, Absolutamente a mercê dos meios dominantes, que se encarregarão de direcionar cada indivíduo de acordo com sua proposta de momento, conforme sejam seus interesses. Controlam seus sentimentos, seus sonhos, suas crenças, pelo domínio do medo. É como a criança obediente que recebe presentes por bom comportamento, mas sabe que se não seguir as regras será castigada. 

Assim, podem fazer o homem rir e chorar; podem torná-lo dócil ou hostil; podem torná-lo emotivo ou insensível; podem transformá-lo numa máquina de matar e destruir ou de construir coisas fantásticas. Dotados de uma crueldade apenas possível aos homens, os senhores do controle da vontade dos homens, que também são homens, percebendo que as massas careciam de algum conforto além do material, criaram a idéia de paraísos além da vida; uma forma conveniente de aquietá-los em suas tentativas de insurreições contra a miséria onde viviam ou vivem. Assim o conformismo se torna aceitável, e até uma prática instituída e aperfeiçoada ao longo do tempo pelas correntes sectárias. 

Por que deve o homem aceitar seu destino de sofrimentos e angústias, seu eterno vazio interior carente de respostas coerentes, respostas que digam exatamente qual o seu verdadeiro papel nesse mundo, não o papel que as instituições criaram para cada um, mas o verdadeiro propósito da vida humana? Como nos impressionam as grandes fachadas das modernas instituições, com seus mármores e a espetacular plasticidade de suas formas, com sua limpeza e belos jardins, com seus funcionários bem vestidos e sempre sorridentes; com sua ostentação de poder que nos passa a idéia de longevidade. 

Isso nos impressiona porque também desejamos o mesmo para nós, fomos programados para pensar assim, para viver assim; apenas nunca nos ensinaram com lidar com o fracasso, como devemos nos comportar se não conseguirmos ser bem sucedidos. Um ser homem verdadeiramente humano, ainda está por surgir, mas nunca antes que esteja consciente daquilo que atualmente é, e de como o meio social controlador de seus destinos, vontades e sentimentos, é o verdadeiro responsável por toda miséria e caos que vive a humanidade. 

Cada criança tem tendências, aptidões, e dificuldades peculiares, que podemos chamar de um perfil personalizado, e outras até podem ter um perfil semelhante, mas nunca poderá ser igual. Compreender essa regra básica, capacita o pai ou educador a iniciar seu aprendizado no relacionamento com a mesma. Na verdade, não precisaríamos de modelos institucionais que nos ensinassem como ser virtuosos ou éticos, pois sendo sensatos, saberíamos como tratar a todos da forma adequada; e todos receberiam de nós, aquilo que gostaríamos de receber deles. 

Se desejamos para nossos filhos uma nova realidade diferente dessa, urge conhecermos nossas fraquezas e por que não temos motivação para mudar; nossos temores que nos incitam obrigando-nos a seguir padrões, e apenas assim estaremos livres para criar indivíduos livres, indivíduos que saberão pensar por si mesmos, e não de conformidade com os ideais de uma máquina criada para dizer como devemos pensar, e no que devemos pensar. 


domingo, 11 de março de 2012

O cigarro
Por Drauzio Varella, na Agência Sindical
O cigarro é o mais abjeto dos crimes já cometidos pelo capitalismo internacional. Você acha que exagero, leitor?Compare-o com outros grandes delitos capitalistas; a escravidão, por exemplo: quantos viveram como escravos?E quantas crianças, mulheres e homens foram escravizados pela dependência de nicotina desde que essa praga se espalhou pelo mundo, a partir do início do século 20?O primeiro crime foi perpetrado contra algumas centenas de milhares de pessoas; o segundo contra mais de 1 bilhão.Na história da humanidade, jamais o interesse financeiro de meia dúzia de grupos multinacionais disseminou tantas mortes pelos cinco continentes: 5 milhões por ano – 200 mil das quais no Brasil.
Faço essas reflexões por causa de uma série que estamos levando ao ar no Fantástico, da TV Globo, com o objetivo de dar força aos que pretendem parar de fumar.Para escolher os personagens, pedimos aos espectadores que nos enviassem vídeos explicando por que razões pediam ajuda para livrar-se do cigarro.As cenas são dramáticas. Mulheres e homens de todas as idades que se confessam pusilânimes diante do vício, incapazes de resistir às crises de abstinência que se repetem a cada vinte minutos.
Mães e pais cheios de remorsos por continuar fumando apesar do apelo dos filhos; avós que se envergonham do exemplo deixado para os netos; doentes graves que definham a caminho da morte sem conseguir abandonar o agente causador de seus males.Em 22 anos nas cadeias, adquiri a convicção de que a nicotina causa a mais devastadora das dependências químicas. Largar da maconha, da cocaína e até do crack é muito mais fácil: basta afastar o dependente da droga, da companhia dos usuários e dos locais de consumo.
Em contrapartida, a vontade de fumar é onipresente; mesmo sozinho, num quarto escuro, o corpo abstinente suplica por uma dose de nicotina.
No antigo Carandiru, vi destrancar a porta de uma solitária, na qual um homem havia cumprido trinta dias de castigo. Com as mãos a proteger os olhos ofuscados pela luz repentina, dirigiu-se ao carcereiro que acabava de liberta-lo: “me dá um cigarro pelo amor de Deus”.
Cerca de 75% dos fumantes se tornam dependentes antes dos 18 anos; muitos o fazem aos 12 ou 13, e até antes. Somente 5% começam a fumar depois dos 25 anos. Por esse motivo, a Organização Mundial da Saúde classifica o tabagismo no grupo de doenças pediátricas.Conhecedores das estatísticas, os fabricantes fazem de tudo para aliciar as crianças. Quando tinham acesso irrestrito ao rádio e à TV, associavam o cigarro à liberdade, ao charme, ao sucesso profissional e à rebeldia da adolescência.
Hoje, espalham pontos de vendas junto às escolas, com os maços coloridos expostos ao lado de balas e chocolates nas padarias e das revistas infantis nas bancas de jornal.Por que razão brigam tanto para patrocinar shows de rock e corridas de Fórmula 1? Seria simplesmente para aprimorar o gosto musical e incentivar práticas esportivas entre jovens?
Que motivos teriam para opor-se visceralmente à Anvisa, quando pretende proibi-los de acrescentar substâncias químicas que conferem ao cigarro sabores de chocolate, maçã, menta ou cerveja?Existiria outra explicação que não de torná-lo menos repulsivo ao paladar infantil?
Qualquer tentativa de conter a epidemia de fumo através da legislação é combatida com as estratégias mais covardes por lobistas, deputados e senadores a serviço da indústria. Na contramão do que deseja a sociedade, pressionam até contra a lei que proíbe fumar em bares e restaurantes.
O que esses senhores ganham com essa conduta criminosa? Estariam apenas interessados no destino das 180 mil famílias que trabalham nas plantações ou nas doações dos fabricantes?Nós temos o dever de impedir o crime continuado que a indústria do fumo pratica impunemente contra as crianças brasileiras. Fuma não pode ser encarado como um simples hábito adquirido na puberdade. Hábito é escovar os dentes antes de dormir ou colocar a carteira no mesmo bolso.O cigarro deve ser tratado como o que de fato é: um dispositivo para administrar nicotina, a droga que provoca a mais torturante das dependências químicas conhecidas pelo homem.


por Pádua Campos